A cadeia produtiva do setor do Agro movimenta a economia regional e coloca os alimentos na mesa dos brasileiros, mas a falta de indústrias de transformação impede que seja agregado valor aos produtos primários, limitando o potencial de crescimento econômico da região.
A ausência de industrialização representa uma significativa perda de oportunidades para o Agro da nossa região. Os números da produção demonstram a força do setor, que tem matéria-prima abundante, como a madeira de pinus e eucalipto, a laranja e outros produtos. Porém, tudo acaba sendo processado fora, levando a geração de empregos, renda e impostos.
Região se destaca pelas Culturas Diversificadas dos pequenos e médios produtores
Embora a força do Agro local tenha grande participação dos produtores voltados para a exportação, os números da agricultura familiar surpreendem e demonstram a capacidade da região.
Essa parcela significativa da produção coloca uma grande variedade de alimentos na mesa dos brasileiros e garante o abastecimento do mercado interno, contrastando com a monocultura predominante em grandes propriedades.
O vasto panorama produtivo agrícola tem a participação fundamental da agricultura familiar, que responde por 80% das14 mil propriedades, aproximadamente.
Para fazer uma análise mais detalhada do Agro da região de Itapetininga, entrevistamos Luiz Leitão, engenheiro agrônomo extensionista da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI),
Leitão falou sobre a importância da vasta e diversificada produção agrícola, apresentando dados recentes.
Ele também destacou os desafios que o setor encontra para gerar maior valor agregado.
A CATI de Itapetininga é uma sede regional que coordena as Casas da Agricultura das cidades vizinhas, atuando como um elo no serviço de extensão rural, em parceria com as prefeituras.
Os números impressionam quando detalhamos a produção local.
Em 2023, a região produziu 77.236 toneladas de verduras e legumes (olerícolas), em uma área de 2.157 hectares, englobando 16 espécies diferentes cultivadas por cerca de 10 mil famílias.
A fruticultura, ocupando cerca de 2 mil hectares, contribuiu com 51.155 toneladas.
Já os tubérculos (vegetais que crescem em baixo do solo, como batata e mandioca) alcançaram a marca de 110.318 toneladas em 3.947 hectares.
No setor de grãos, impulsionado por médios e grandes produtores, a área cultivada atingiu 165.401 hectares, com uma produção de quase 800 mil toneladas.
A soja se destaca como carro-chefe, ocupando 82 mil hectares e gerando 344 mil toneladas. Nos últimos dez anos, a cultura da soja expandiu significativamente, avançando sobre áreas de pastagem, assim como o reflorestamento com eucalipto (129.602 hectares) e pinus (17 mil hectares), este último voltado principalmente para a extração de resina.
A produção de cana-de-açúcar também é relevante, com 77.800 toneladas para forragem e expressivas 2.319.000 toneladas destinadas à indústria, além de 344 toneladas de mel.
Contudo, ao analisarmos o valor da produção, a imagem se transforma.
Embora a região de Itapetininga se destaque no estado de São Paulo em termos de valor de produção de frutas frescas (terceiro lugar), verduras e legumes (quinto lugar) e grãos e fibras (sexto lugar), o cenário muda drasticamente quando se trata de produtos para a indústria.
Itapetininga praticamente desaparece nesse quesito, com exceção do pólo de produção de frango, segmento bem desenvolvido que agrega valor localmente.
Um exemplo emblemático é a produção de pinus. Apesar da vasta área plantada e da extração de resina, a região carece de uma indústria de móveis que utilize essa matéria-prima local. Marceneiros da cidade relatam dificuldades em encontrar madeira tratada e seca a custos competitivos, optando por adquirir o MDF pronto.
Essa situação ilustra a desconexão entre a produção primária e a indústria local, evidenciando a perda de oportunidades em toda a cadeia produtiva.
E a região possui o capital intelectual necessário para impulsionar essa transformação.
A Faculdade de Tecnologia de Itapetininga (Fatec) e o campus da Lagoa do Sino da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) em Buri formam profissionais qualificados em áreas como agronegócio e gestão da produção agroindustrial.
No entanto, muitos desses talentos acabam buscando oportunidades fora da região, devido à falta de um mercado de trabalho que absorva seus conhecimentos.
Nesse contexto, é urgente a necessidade de um esforço do poder público. Ele pode e deve oferecer informação e apoio para que a iniciativa privada faça a sua parte, instalando pequenas e médias agroindústrias na região.
Aproveitando a alta qualificação das instituições de ensino voltadas ao setor é possível realizar estudos detalhados das cadeias produtivas locais, identificando gargalos e oportunidades. É o primeiro passo para atrair investimentos, oferecendo incentivos e facilitando o acesso à informação para potenciais empreendedores. Isso é fundamental para reverter o quadro atual e agregar valor à produção agrícola de Itapetininga e região.
A valorização da produção local, por meio da industrialização, não apenas impulsionaria o desenvolvimento econômico de Itapetininga e dos municípios vizinhos, mas também fortaleceria a agricultura familiar, geraria empregos, aumentaria a arrecadação de impostos e, conseqüentemente, melhoraria a qualidade de vida da população.
O potencial agrícola da região é vasto e diversificado, mas precisa da transformação industrial para desenvolver em sua totalidade. É necessário e urgente, agregar valor a tudo que a nossa terra oferece.