1 de outubro de 2025

A pesquisa científica desempenha um papel fundamental, embora muitas vezes discreto, no sucesso e desenvolvimento do agronegócio, tanto no estado de São Paulo quanto no Brasil. O Portal das Cidades entrevistouCarlos Frederico de Carvalho Rodrigues, pesquisador científico, médico veterinário e gestor da APTA Regional de Itapetininga, órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

A APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios) é o braço da pesquisa da Secretaria de Agricultura. A Agência congrega sete institutos de pesquisa, alguns centenários como o Instituto Agronômico de Campinas e o Instituto Biológico. O mais novo instituto da APTA, é a Apta Regional, que abarca 18 fazendas experimentais no estado com a missão de manter contato direto com as demandas dos produtores, e uma de suas Unidades de Pesquisa & Desenvolvimento é a APTA Regional de Itapetininga.

Inovação em Grãos e Destaque Regional

Em Itapetininga, a unidade da APTA, que completará 70 anos em 2027, direcionou seu foco de ovinos e caprinos em 1957, o PECO, e para a produção de grãos a partir de 2017, resgatando a vocação agrícola da região e demanda de pesquisas. Um dos projetos de destaque é o de sojas e trigos regenerativos para o sudoeste paulista, focado na validação de tecnologias para a agricultura regenerativa, com forte apelo ambiental.

“Nesses anos, conseguimos não só testar mais de 30 variedades de sementes de soja, mas escolhemos aquelas com melhor desempenho na nossa região,” explicou Frederico de Carvalho. O resultado dessa pesquisa foi um grande desenvolvimento da cultura na região, validado por dados do IBGE, que mostraram Itapetininga entre os maiores municípios produtores médios de soja no Brasil em 2022 e 2023. Esse sucesso, segundo o pesquisador, é fruto da parceria entre a pesquisa, os dias de campo e a cooperação com entidades como a Coplacana e Sindicato Rural de Itapetininga.

Patentes Inéditas no Mundo: Sustentabilidade e Bem-Estar Animal

A pesquisa da APTA Regional tem gerado inovações com potencial global. A unidade de Itapetininga é responsável pelo financiamento de duas patentes inéditas no mundo, com direito de exclusividade para inovações de produtos e processos que partem da demanda do produtor.

O TereOIL e a Patente Verde

Uma dessas inovações é oTereOil, um bioativo derivado da terebentina (conhecida popularmente como água-ráis), extraída de florestas resiníferas de pinheiros, uma atividade marcante na região. Esta é uma patente verde, pois o pinheiro cresce em áreas como pastagens degradadas, gerando retorno econômico e demandando muita mão de obra, promovendo o desenvolvimento regional.

O TereOIL tem múltiplas aplicações:

  • Controle de Pragas Agrícolas: É um adjuvante bioativo em testes para o controle do psilídeo, vetor da bactéria do greening da laranja, uma ameaça ao agronegócio paulista.
  • Saúde e Ambiente Animal (Pinheirais Resiníferos e Inovabilidades paraPecuária de Baixo Impacto Ambiental – PECBIA): Está se mostrando efetivo no controle ambiental de carrapatos, agindo em 90-95% da população desses vetores que estão no ambiente, antes que atinjam os bovinos de leite. Além disso, é eficaz contra o carrapato da capa de varas e o cascudinho, parasita que afeta a produção de frango de corte e ovos. O produto não deixa resíduos no leite nem na carne e está em fase de registro no Ministério da Agricultura.

Dispositivo de Identificação Individual Não Invasivo

A outra patente é um dispositivo de identificação individual de bovinos, bubalinos e eqüinos (Rabixoo4TAG), fixado na vassoura da cauda do animal. Este wearable (vestível) elimina a necessidade de furos ou o uso da marca-fogo, contribuindo para o bem-estar animal, uma exigência crescente dos mercados internacionais, como o europeu.

Além do bem-estar, o dispositivo:

  • Aumenta a amplitude de varrição da cauda, ajudando a espantar bernes, moscas e carrapatos.
  • Preserva a qualidade do couro, evitando cicatrizes de ectoparasitas.
  • É uma plataforma física que se adequa à Internet das Coisas (IoT), permitindo o uso de tecnologias já existentes, como brincos com chip e códigos de rastreabilidade (QR Code).

A APTA está em fase de busca de parceiros para transferência de tecnologias e licenciamento comercial das patentes, garantindo que o conhecimento gerado na pesquisa pública chegue rapidamente ao produtor, sem ficar “na gaveta”.

Convite ao Produtor e à Comunidade

Frederico enfatiza a importância da colaboração do produtor rural: “É uma pesquisa onde a gente colhe, literalmente a gente colhe a demanda, as dores, as necessidades que o produtor rural tem.”

O pesquisador convida pecuaristas interessados a colaborar na validação crítica do dispositivo de identificação animal. Cinco mil dispositivos estão disponíveis para feedback gratuito dos usuários finais. “Até 2032, nós temos o grande desafio de identificar individualmente e fazer a rastreabilidade de todo o rebanho nacional. A resposta está aqui,” afirmou.

A APTA Regional de Itapetininga, localizada em frente ao trevo da Escola Agrícola, no antigo PECO,está aberta à visitação de segunda a sexta, das 7h30 às 16h30.

No dia 17 de outubro, a partir das 8h30, ocorrerá o 3º Encontro APTA Portas Abertas, com demonstrações práticas da pesquisa para o público externo, escolas e a comunidade, reforçando a conexão entre ciência e sociedade.

Veja a entrevista completa.

Autor

Por Portal das Cidades

O Portal das Cidades é um site de entrevistas e notícias da região de Itapetininga, num novo formato interativo com as plataformas digitais.

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