12 de junho de 2025

O  Projeto Integrar, realizado pelo Sindicato Rural de Itapetininga, é uma iniciativa da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR). O objetivo principal é desenvolver um censo agropecuário detalhado, levantando informações cruciais sobre as propriedades rurais da região. Essa base de dados será fundamental para a criação de políticas públicas e projetos da iniciativa privada, visando agregar valor ao agronegócio local.

Em uma conversa exclusiva, Celso Salata, supervisor do projeto, e Esdras Molina, pesquisador, compartilharam insights sobre o trabalho e a realidade do setor rural em Itapetininga.

“Este é um projeto piloto do SENAR, abrangendo todo o estado de São Paulo”, explica Celso Salata. “Serão visitadas cerca de 640 mil propriedades em 645 municípios, com a participação de 253 sindicatos. Nossa atuação abrange Itapetininga e Sarapuí. A pesquisa é rápida e tranquila, e seu principal propósito é aprimorar os custos do SENAR, otimizando a renda e a qualificação da mão de obra no campo, que atualmente é escassa.”

O SENAR tem desempenhado um papel vital na capacitação dos produtores rurais. “Nosso sindicato já promoveu mais de 2.350 cursos, beneficiando mais de 95 mil alunos”, destaca Salata. “Importante ressaltar que a maioria desses alunos não são sócios do sindicato, e os cursos são diversificados, cobrindo desde bovinocultura (leite e corte, aplicação de medicamentos, casqueamento), processamento de carnes (suína e de aves), horticultura orgânica e fruticultura.”

Celso Salata também mencionou a implementação do programa Assistência Técnica e Gerencial (A.T.E.G.) para avicultura e fruticultura, com técnicos visitando propriedades por dois anos e três meses, oferecendo suporte contínuo aos produtores selecionados. “Com 3.600 propriedades e cerca de 2.700 proprietários rurais em nosso município, essa pesquisa é crucial para identificar as necessidades e ofertar cursos alinhados às mudanças do setor, como o uso de drones e pulverizadores autopropelidos.”

Ele ressalta que os dados coletados no Projeto Integrar também alimentarão um centro de inteligência artificial da FAESP, prometendo um avanço significativo para o agronegócio.

Desafios e Realidades do Campo: O Olhar do Pesquisador

Esdras Molina, que concilia a pesquisa com seus estudos em agronomia, compartilha as realidades encontradas nas propriedades. “Tenho me deparado com muitos produtores em vias de desistir, principalmente os pequenos e médios, que ficaram para trás com a modernização da agricultura. Vemos tratores da década de 80 em 70% das propriedades aqui no município”, relata.

Um dos grandes desafios, segundo Molina, é a resistência dos produtores ao projeto. “Muitos acreditam que, por vir do SENAR e da FAESP, ligados ao Estado, a intenção seja futura de trazer impostos ou algo do tipo. Também há uma resistência dos médios produtores, que não querem aparecer, mesmo produzindo em uma cadeia que poderia ser muito mais eficiente.”

Molina também aponta defasagens na gestão da produção e nas práticas diárias, como o manejo do gado. “Muitos ainda trabalham ‘no olhômetro’, sem aproveitar a tecnologia que o celular e o computador oferecem para o controle de custos, inseminação e outras tarefas essenciais.”

Infraestrutura e Segurança Rural: Problemas Latentes

A questão da infraestrutura é outro ponto crítico. “Somos o maior município em malha rural, com 3.800 km de estradas rurais, e muitas estão em condições precárias”, afirma Esdras. “Isso prejudica o escoamento da produção, especialmente para o médio e pequeno produtor. O Projeto Integrar pode ser uma ferramenta para auxiliar na modernização e no aumento da produção desses agricultores, que, ao produzirem mais, logicamente terão maior renda.”

A segurança no campo também é uma preocupação. “Antigamente, víamos muitas porteiras abertas, sem cadeado. Hoje, a desconfiança é grande, e isso reflete a falta de uma política pública que atenda melhor a área rural.”

A Importância dos Pequenos Produtores e a Agregação de Valor

Celso Salata enfatiza a importância dos pequenos produtores, responsáveis por grande parte dos alimentos que chegam à nossa mesa. “A tendência é o produtor se isolar, e nosso objetivo é que ele se abra ao conhecimento atual. Nossos cursos, por exemplo, ensinam a processar cogumelos, leite, carnes, agregando valor aos produtos. Ainda vemos propriedades sem curva de nível, sem saber o pH da terra ou da água, o que impacta diretamente na eficácia de fertilizantes e defensivos agrícolas.”

O Sindicato Rural, presente em diversos conselhos municipais, busca atuar em diferentes frentes, inclusive no turismo rural, como uma nova fonte de renda para propriedades com potencial.

Diversidade da Produção e a Necessidade de Organização

Para Esdras Molina houve uma diminuição na produção de hortaliças e frutas por pequenos agricultores. “Antes, tínhamos uma grande porcentagem de agricultores plantando frutas, mas hoje essa porcentagem caiu muito, em torno de 10% a 15%.”

Celso Salata corrobora a diversidade da produção local, que inclui madeira, grãos (soja, milho, sorgo, trigo, amendoim), batata, além de leite, porco, gado de corte, coelho e aves. “Somos a maior região produtora de aves do estado de São Paulo, e o esterco das aves, por exemplo, é um insumo valioso que ainda é subutilizado.”

O Futuro do Campo: União e Conhecimento

A falta de cooperativas e associações é um ponto que Celso Salata considera fundamental.

“O produtor se isola cada dia mais, com menos conhecimento e menos vontade de contatar com outros produtores. Precisamos de mais apoio dos produtores, não só do poder público.”

Esdras Molina reforça a importância da unidade e da modernização. “Vemos muito produto, mas pouca indústria de transformação no próprio município. A soja, por exemplo, é embarcada para outros países, quando poderia ser processada aqui, agregando valor. A pesquisa nos dá o conhecimento real do que se produz, permitindo uma organização melhor, como no caso da melancia, onde muitos produtores perdem a safra por falta de organização para escoar a produção.”

O Potencial Inexplorado: A Força dos Pequenos e Médios

Celso Salata enfatiza que os pequenos e médios produtores representam 80% das propriedades em Itapetininga e têm um potencial enorme. “Se receberem incentivo, apoio, infraestrutura e segurança, isso resultará em um grande aumento econômico e na geração de emprego e renda para a cidade. O produtor não pode parar, não pode perder o conhecimento de anos. Ir para a cidade também não é a solução, pois o mercado de trabalho exige qualificação.”

O Projeto Integrar é, sem dúvida, uma ferramenta fundamental para diagnosticar, planejar e promover o desenvolvimento do agronegócio em Itapetininga. A colaboração dos produtores, a abertura para a pesquisa e a busca por conhecimento são a chave para transformar a realidade do campo e impulsionar a economia local.

Os Produtores Precisam de União

“Convidamos o produtor rural a vir ao Sindicato, a conhecer o projeto, a conhecer os cursos do SENAR”, finaliza Esdras Molina. “A intenção do projeto é auxiliar na própria cadeia produtiva, pois o benefício realmente vem quando a pessoa tem o interesse de se modernizar e de conhecer a agricultura.”

Celso Salata complementa: ” Pedimos o apoio do produtor para que possamos realizar essas pesquisas que serão importantes para melhorar o nosso setor rural.”

 

O futuro do agronegócio em Itapetininga depende da união, do conhecimento e da capacidade de adaptação às novas tecnologias. O Projeto Integrar é um passo no sentido de construir um cenário mais próspero para o nosso produtor rural.

Autor

Por Portal das Cidades

O Portal das Cidades é um site de entrevistas e notícias da região de Itapetininga, num novo formato interativo com as plataformas digitais.

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