O documentário e websérie “Professora Cecília, uma história de inclusão em Itapetininga”resgata a história do trabalho da professora Cecília Pimentel, pioneira na educação inclusiva da região.
Eles fazem parte de um projeto contemplado pela Lei Paulo Gustavo, de incentivo à cultura, e viabilizado pela Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Itapetininga.
Cecília Pimentel Vasques Prestes Nogueira nasceu em Itapetininga, no dia 05/01/1933, filha de José Maria Vasques Sérgio e Hermínia Pimentel Vasques. Teve três irmãos, Marco Antônio, José Pautilo (conhecido funcionário da Delegacia de Polícia de Itapetininga) e Therezinha Pimentel Vasques Ayres, também professora da rede pública estadual em Itapetininga.
Seu pai era filho de um imigrante italiano e de Júlia Vasques, de família tradicional da cidade, com origem portuguesa. Sua mãe era filha de portugueses, cuja família foi uma das fundadoras da cidade de Itararé.
Cecília fez o curso de magistério na Escola Normal Peixoto Gomide e logo nas primeiras classes que atuou teve o desafio de ensinar uma aluna surda. Ela morava na casa dos pais quando começou a lecionar e seus vizinhos também tinham uma filha surda. Naquela época os surdos não tinham perspectiva nenhuma de inclusão e eram pessoas que acabavam vivendo à margem da sociedade, muitas vezes trancados em suas casas pelas famílias.
Uma das características da jovem professora Cecília era a compaixão e o amor ao próximo. Na infância ela teve uma sólida formação católica por parte de sua avó materna, dona Júlia Vasques, que Cecília tinha muita afinidade.
Decidida em seus propósitos, a jovem Cecília partiu para o Rio de Janeiro, em 1960, para cursar uma a especialização para professores de crianças surdas, no Instituto Feminino de Educação Padre Anchieta, que mantinha convênio e aulas no Instituto Nacional dos Surdos do Rio de Janeiro.
Em 1965 Cecília casa com o jornalista Edmundo Prestes Nogueira e em 1967 ela consegue junto a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo a primeira classe de surdos da região, na escola Estadual Coronel Fernando Prestes de Albuquerque.
Ali começava uma caminhada de muitos desafios, sempre vencidos com a determinação e amor ao próximo que Cecília possuía. E com a incondicional ajuda e apoio do marido Edmundo Prestes Nogueira.
Com um grande senso maternal, Cecília tratava cada criança como se fosse seu filho, não medindo esforços para conseguir o melhor para aquele aluno. Quando não encontrava exames ou recursos necessários para o progresso de alguma criança, incansavelmente Cecília leva a criança para Sorocaba ou São Paulo, buscando solução para a evolução do seu aluno.
Por ser a primeira classe de educação inclusiva da região, vinham até ela muitas famílias que tinham filhos que não falavam. Mas após fazer os testes, Cecília identificava que a criança não era surda e tinha outro tipo de diferença, como o autismo, por exemplo.
Sem poder atendê-las e sabendo que àquela criança não teria perspectiva nenhuma de aprendizado ou inclusão social, Cecília e seu marido Edmundo partem para São Paulo, para conhecer a APAE e seu atendimento às diversas outras especialidades que Itapetininga não possuía.
Retornando para a cidade, o casal reuniu um grupo de colaboradores, que teve grande apoio da sociedade para realizar a fundação da APAE de Itapetininga, em 14/07/1971.
Cecília sabia que o ensino escolar não era suficiente para o um processo de inclusão verdadeiro de seus alunos. Existiam questões importantes fora das quatro paredes da sala de aula, como aumentar a auto-estima daquelas crianças. Naquela época, pessoas diferentes como elas eram consideradas “inferiores” pelo senso comum da sociedade da época.
Era preciso que a comunidade reconhecesse a capacidade delas e as validasse como seres humanos iguais a todos.
Durante a sua vivência com seus alunos, Cecília percebeu que a ausência do sentido da audição era compensada com o aumento da percepção visual.
Ela descobriu que os alunos compensavam a ausência de um dos sentidos (ouvir, por exemplo) desenvolvendo mais outros (como a visão), tornando o indivíduo com uma sensibilidade maior na observação detalhada das imagens, com capacidades maiores para atividades artísticas como a pintura.
Em seu trabalho na classe de surdos da Escola Estadual Coronel Fernando Prestes, ela identificou a grande capacidade de suas crianças desenvolverem a arte. A partir desta constatação, Cecília contou com a ajuda da professora Lourdes Valio para ensinar a pintura às crianças. Nas pinturas os alunos demonstravam grande sensibilidade e maior capacidade de observar com detalhes as imagens, um senso mais apurado para utilizar as cores, as dimensões e a profundidade dos quadros.
E logo surgiram ótimos resultados: os quadros eram bonitos e impactantes.
Foi quando ela começou a organizar inúmeras exposições de quatros em Itapetininga e em São Paulo, eventos que valorizavam a capacidade dos alunos e surpreendiam a sociedade.
Com a venda dos quadros ela viabilizava a compra de aparelhos auditivos para àquelas crianças menos favorecidas, cujas famílias não tinham condições de comprar os aparelhos.
Em 1987 vários quadros dos alunos da professora Cecília foram premiados na Bienal de Kanagawa – Exposição de Artes das Crianças do Mundo, no Japão.
Na década de 1980, outra professora da rede estadual de ensino realizou uma peça de teatro “O Milagre de Anne Sullivan”, encenada na Igreja das Estrelas em 1984, numa época que Itapetininga não tinha teatro. Compartilhando a mesma idéia da necessidade de reconhecimento e validação das crianças para o processo de inclusão na sociedade, Margha procurou Cecília com a proposta inovadora de ter como atriz principal a menina Maria José Ruivo, da classe de surdos da escola Fernando Prestes.
As duas professoras, juntas, superaram todos os desafios e fizeram da peça um grande sucesso. Maria José, superando os limites da surdez, teve uma grande desenvoltura, marcando as apresentações e impressionando o público. “O Milagre de Anne Sullivan” marcou a história do teatro de Itapetininga, levando mais de 15 mil pessoas para assistir o espetáculo, e teve repercussão nacional.
No dia do professor de 1984, o Jornal Nacional da TV Globo faz uma matéria destacando o trabalho da professora Cecília Pimentel e a peça de Margha Bloes.
Cecília Pimentel e Edmundo Prestes Nogueira tiveram três filhos, Edmundo José Vasques Nogueira, Luciano Vasques Nogueira, Luís Francisco Vasques Nogueira e quatro netos: Augustos Duarte Nogueira, Gabriel Duarte Nogueira, Laura Duarte Nogueira e Raísa Duarte Piloto. E uma bisneta, Manuella Elias Nogueira.