Um longo trabalho de investigação sociológica feito por Oracy Nogueira que reúne 12 enunciados comparativos sobre o preconceito nas relações raciais em Itapetininga, originou um estudo com o título “Preconceito de marca: as relações raciais em Itapetininga”.
A pesquisa foi produzida nos anos de 1950 para um ciclo de estudos patrocinados pela Unesco e apresentado no Congresso Internacional de Americanistas (1954) do qual participaram Florestan Fernandes, Luiz de Aguiar Costa Pinto, Virginia Leone Bicudo, Roger Bastide, entre outros.Por conta desta pesquisa, Oracy Nogueira é considerado por intelectuais e acadêmicos como o homem que desvendou o racismo brasileiro.
O estudo de comunidade em Itapetininga revela o modo histórico e concreto como se formou e se exerce no Brasil o preconceito racial contra os negros.
O ponto central da reflexão de Oracy é a permanência e o desenvolvimento do preconceito racial, que ele chama de “preconceito de cor” ou “preconceito de marca”. Preconceito que facilitou a integração e a ascensão social dos imigrantes europeus e retardou e impediu a ascensão dos negros. Os brasileiros natos, seja no cotidiano, seja em sua ideologia política ou literária, sempre viram no imigrante branco um elemento de melhoramento da raça. Neste contexto, cada conquista do negro ou do mulato que logra vencer econômica, profissional ou intelectualmente tende a ser absorvida, em uma ou duas gerações, pelo grupo branco, através do branqueamento progressivo e da progressiva incorporação dos descendentes a esse grupo. O negro, a cada geração, teria de começar de novo, lutando contra o preconceito e sem a solidariedade de um grupo identitário.
Diz Oracy em sua obra “considera-se como preconceito racial uma disposição (ou atitude) desfavorável, culturalmente condicionada, em relação aos membros de uma população, aos quais se têm como estigmatizados, seja devido à aparência, seja devido a toda ou parte da ascendência étnica que se lhes atribui ou reconhece. Quando o preconceito de raça se exerce em relação à aparência, isto é, quando toma por pretexto para as suas manifestações os traços físicos do indivíduo, a fisionomia, os gestos, o sotaque, diz-se que é de marca; quando basta a suposição de que o indivíduo descende de certo grupo étnico para que sofra as conseqüências do preconceito, diz-se que é de origem”.
“Esse artigo é uma obra-prima. Um clássico”, descreve o sociólogo Marcos Chor Maio, professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde (PPGHCS) da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). “Ele criou um modelo, uma teoria”. Já o antropólogo Roberto DaMatta destaca que o artigo representou um prenúncio de uma análise que mais tarde seria conhecida como estrutural.