Está em curso em Itapetininga um levantamento de dados fundamental para o desenvolvimento do agronegócio local: o Projeto Integrar. Realizado pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP) em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), o trabalho é executado na região pelo Sindicato Rural de Itapetininga e visa mapear a cadeia produtiva, identificando vocações regionais, dificuldades e as necessidades de assistência técnica e formação.
Os pesquisadores do projeto, Esdras Molina e João Vitor Macedo, falaram sobre como vai o andamento da pesquisa. Itapetininga possui cerca de 3.600 produtores rurais e, até o momento, quase 750 propriedades já foram visitadas.
Infraestrutura e o Drama da Distância
Um dos principais desafios identificados no campo é a precária infraestrutura, especialmente o estado das estradas rurais, crucial para o escoamento da produção.
“Nós temos o bairro da Pescaria, por exemplo, que ida e volta dá quase 102 km. É à distância, estradas ruins… choveu, é um problema enorme,” relata Esdras Molina.
O objetivo do Integrar, segundo os pesquisadores, é levar essas e outras preocupações diretamente à FAESP, que utiliza os dados para auxiliar o campo com base em um conhecimento real da situação. O projeto não é exclusivo de Itapetininga; ele acontece em todo o estado, com a parceria de 180 sindicatos rurais e a marca de quase 60 mil produtores visitados em São Paulo.
O Poder da Capacitação Gratuita do SENAR
O levantamento de informações também é vital para aprimorar as políticas públicas e a oferta de cursos gratuitos do SENAR.
João Vitor Macedo Silva destaca que muitos produtores desconhecem a gratuidade e a diversidade da grade curricular. O SENAR oferece mais de 200 cursos focados no produtor rural, como:
- Mecanização Agrícola (manutenção de trator e plantadeira).
- Domesticação Racional e Inseminação Artificial.
- Processamento de Alimentos (panificação, embutidos como salame e linguiça).
- Cursos de alta tecnologia, como o de manuseio e manutenção de drones (em vias de concretização).
“O produtor sai de lá um padeiro praticamente,” comenta Esdras sobre o curso de panificação. “O agricultor deveria aproveitar isso que está sendo disponibilizado.”
Pequeno e Médio Produtor: O Desafio da Agregação de Valor
Um ponto de atenção levantado pela pesquisa é a dificuldade de pequenos e médios produtores em obter valor agregado aos seus produtos, o que leva ao abandono da atividade e ao êxodo rural dos mais jovens.
Esdras Molina sugere que a solução passa pela união dos produtores em cooperativas. “Não adianta nada eu produzir 20 litros de mel, mas eu não tenho meu produto agregado, o valor que eu ganho é muito pouco. A tendência é no futuro eu parar com a produção,” argumenta. Ele defende a formação de cooperativas, onde o produtor participa diretamente dos lucros, garantindo escala, agregação de valor (como o envase do mel) e maior poder de negociação.
João Vitor reforça a preocupação: “O êxodo está muito grande. Os filhos de produtores aí não estão querendo continuar com a produção porque estão vendo a dificuldade que a família passa por conta dessa agregação de valor, essa geração de renda.”
Os pesquisadores fizeram um apelo final para que os produtores recebam as equipes do Projeto Integrar. “A ideia é fazer a integração regional do agro,” conclui Esdras. “É algo que vem só para beneficiar ao produtor e ao setor do agronegócio,” afirma João Vitor.
O Projeto Integrar é uma ferramenta essencial para direcionar esforços de capacitação e investimentos, visando o fortalecimento do agronegócio como vocação econômica de Itapetininga.