13 de dezembro de 2024

Por Guilherme Lockmann*

A economia verde é importante para o mercado financeiro ou o cenário atual nos traz uma inversão desses papéis? Deparei com essa pergunta durante um painel que mediei no último Energy Summit, no Rio de Janeiro – um dos principais eventos globais dedicados a energia e sustentabilidade. Ao meu lado, estavam Adam Goldsmith, do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, e Gustavo Montezano, CEO da YvY Capital. Foi Goldsmith quem propôs essa reflexão. Ele explicou que a transição verde não pode acontecer sem capital privado e destacou que este pode ser um novo motor de crescimento do Brasil.

“Começando com uma estatística, como muitos de vocês sabem, de acordo com o Fórum Econômico Mundial, para alcançar nossas metas de 1,5 graus Celsius, precisamos investir US$ 4,5 trilhões por ano em energia verde. Agora, a economia verde não se resume apenas em energia verde. E grande parte disso seria através dos mercados financeiros, por isso, são tão importantes para a economia verde”, disse Goldsmith. Ele ressaltou que o capital privado é essencial para essa transição, citando que, dos US$ 23 trilhões investidos globalmente por ano, só US$ 6 trilhões são públicos – e a maior parte não é dedicada à economia verde. Também contou que o Tesouro dos Estados Unidos trabalha para alinhar padrões e promover mercados de carbono voluntários, destacando a necessidade de combater o greenwashing e assegurar que os créditos de carbono realmente removam carbono da atmosfera.

E qual seria a perspectiva brasileira? Montezano ressaltou que o Brasil, com uma economia baseada especialmente na agricultura sustentável e em energia renovável, está naturalmente posicionado para liderar a transição para uma economia verde. Ele identificou três canais principais para essa transição: o regulatório, o comportamento do consumidor e as questões climáticas. “Agora, o que a gente precisa para acelerar? Primeiro a clareza de que para acelerar a produção, ela tem que ser lucrativa. E quem for mais lucrativo vai conseguir ser mais rápido e vai conseguir ter uma escala maior na transição para a economia verde. E o segundo conceito é o de cadeia produtiva. O setor financeiro não só tem, como irá acompanhar essa mudança de diversificação, essa mudança de enxergar risco de retorno, formas de avaliar a direção de cada investimento que vai haver aqui brevemente em várias outras direções”, explicou ele, desmistificando a ideia de que investimentos sustentáveis oferecem retornos menores. Montezano também defendeu que o setor financeiro brasileiro, público e privado, tenha um papel vital em maximizar essa agenda.

Sobre as expectativas destas mudanças, Goldsmith destacou que a política econômica verde precisa de um ambiente de negócios propício para prosperar. “Acho que há outras coisas que podemos fazer para melhorar isso. Acho que há muitas estruturas, seja através do imposto de renda, da legislação trabalhista ou dos mercados de crédito, e como podemos reduzir o custo do crédito”, disse. Montezano, então, enfatizou que a transição para uma economia verde é uma jornada geracional, mencionando que o principal desafio é o conhecimento. Ele explicou que o Instituto de Investimento e Prosperidade, fundado há cerca de um ano, dedica-se, exclusivamente, a acelerar essa transição no Brasil, colaborando com todos os setores da economia para criar um futuro mais sustentável.

Para fechar a discussão, Goldsmith destacou a importância da cooperação entre governos e setores privados. Ele citou a Lei de Redução da Inflação dos Estados Unidos, um programa trilionário de apoio à economia verde, como exemplo de uma iniciativa que, apesar de parecer uma política industrial interna, oferece muitas oportunidades de colaboração internacional. Também defendeu que parcerias entre os Estados Unidos e o Brasil são fundamentais para impulsionar a economia verde globalmente, beneficiando ambos os países. Montezano concluiu ressaltando a interdependência entre barreiras comerciais, geopolítica e clima, afirmando que essas dimensões de risco estão intrinsecamente ligadas na agenda de transição. E reiterou que o sucesso dessa transição depende de um ambiente de cooperação mútua, inovação e investimentos estratégicos. 

Numa visão pessoal, o painel trouxe uma lição importante para todos nós: a de que a combinação de esforços regulatórios, comportamentais e financeiros é primordial para criarmos um futuro sustentável e lucrativo. Um exemplo disso é a expectativa da Administração de Informação de Energia (EIA, na sigla em inglês), que espera que a implantação de energias renováveis cresça 17% nos Estados Unidos em 2024, representando quase um quarto da geração de eletricidade. Visto que o país carrega a chancela de maior economia mundial, contribuir com esse percentual de crescimento é algo extremamente relevante. Por isso, medidas conjuntas são tão importantes. O impulso combinado de investimentos federais direcionados para a energia limpa e a demanda por descarbonização de entidades públicas e privadas nunca foi tão forte. Juntas, essas forças podem permitir que as energias renováveis superem os obstáculos causados pelas mudanças significativas necessárias para atingir as metas climáticas do país. O incentivo e os desafios que moldam o próximo ano preparam o cenário para decolar em termos de tecnologias, indústrias e mercados de energia renovável. 

*Guilherme Lockmann é sócio-líder de Power, Utilities & Renewables da Deloitte.

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